Pensa na última vez que fizeste uma dieta.
Talvez tenha sido há algum tempo atrás, para perder uns quilos para o verão, ou depois dos excessos do natal e ano novo. Talvez estejas a pensar começar uma outra na próxima segunda-feira. Provavelmente, já experimentaste várias, umas porque te recomendaram, outras porque eram populares na internet. Mas pergunta-te: alguma das vezes funcionou?
E com isto, a pergunta é: funcionou no sentido em que perdeste peso e mantiveste? Conseguiste voltar à tua vida normal, depois da dieta, e manter o peso? Perdeste o peso permanentemente? Foi sustentável? Sentes-te satisfeita?
Por alguma razão, cheira-me que a resposta é um redondo “não”!
É mais do que sabido, estudado, testado, demonstrado: dietas não funcionam!
As dietas funcionam naquele momento, só! Dietas são tão restritas, que podem funcionar no momento, mas para serem sustentáveis a longo prazo, a pessoa tem de MANTER essa dieta SEMPRE, o que geralmente significa comer pouco ou deixar de comer algum grupo da roda dos alimentos, por completo.
A vasta maioria das pessoas que perde peso através de uma dieta, acaba por voltar a ganhar todo o peso, e por vezes, ainda mais do que tinha inicialmente. Se for feita de forma repetida, fazer várias dietas constantemente, a longo prazo pode resultar em ganho de peso, e não perda. Isto está mais do que cientificamente provado – basta uma pesquisa no Google Académico para ter acesso a variadíssimos artigos de estudos e investigações que foram feitos ao longo de muitos anos neste tópico, que é um dos mais populares.
Não és tu que falhas na dieta, a dieta é que te falha a ti!
Sobretudo, porque somos motivadas para fazer dieta, raramente porque queremos ser mais saudáveis, mas sim porque queremos ter “aquele corpo” para o verão.
Porque é que as dietas NÃO funcionam?
De um modo geral, os nossos corpos não foram desenhados para manter um sistema de perca de peso a longo prazo porque simplesmente, na maioria dos casos, o corpo está programado para reter gordura ao invés de a perder, devido ao instinto de sobrevivência. Quando nos submetemos a dietas rigorosas e restritas, o corpo interpreta aquilo como uma crise; um sinal de que não temos acesso a comida. Esta “interpretação” do corpo, que é a NATURAL, vai ter uma série de consequências:
–> Fazer dieta faz com que se torne mais difícil do nosso cérebro resistir a comida
É, mesmo, um mecanismo de sobrevivência. Nós precisamos de comer para viver – calorias são convertidas em energia, e nós existimos dela. Sem elas, o nosso corpo começa lentamente a desligar-se. Assim, quando damos pouca comida ao nosso corpo (menos do que o necessário e saudável), o nosso corpo liberta hormonas que aumentam e muito o apetite. Essas são as mesmas hormonas que fazem a comida saber melhor. O resultado? Uma dificuldade acrescida em resistir a comida, que ainda por cima percepcionamos como mais deliciosa!
–> Fazer dieta interfere com as pistas que o nosso corpo nos envia sobre fome e saciedade
Da mesma forma, fazer dieta de forma prolongada faz com que as hormonas que nos fazem sentir satisfeitos, em muito menor número. Ao mesmo tempo que as hormonas que nos fazem sentir fome aumentam – aquilo a que se chama de um “duplo yammi”. É a forma que o nosso corpo tem de se certificar que procuramos comida e a consumimos mais; para o nosso cérebro, aquela dieta é sinal de que estamos numa circunstância em que não temos acesso a comida; assim, qualquer comida que esteja disponível naquele momento deve ser aproveitada ao máximo, para que possa armazenar o máximo de gordura possível caso haja outra circunstância de fome.
–> Fazer dieta estraga a tua relação com a comida
Não é preciso estudos que digam isto, pois não? (apesar de os haver). Todas nós já o experienciámos. Quando estamos a fazer dieta, diabolizamos a comida; de repente, a comida é algo mau. Algo que faz engordar. Deixamos de ter uma visão natural e intuitiva sobre comida e alimentação (comer quando se tem fome, comer um pouco de tudo, e parar quando se atinge a saciedade), e passamos a ter uma relação viciada, nada saudável nem funcional com a comida.
–> Fazer dieta leva ao “comer emocional”, levando a dependência de comida para gerir o stress
Fazer dieta causa stress, ponto final. Não respondemos aos instintos básicos do nosso corpo, mexe com as hormonas (por sua vez, claro, mexe com o humor e bem-estar), é horrível em tudo! Mas a maior causa de aumento de stress quando estamos a fazer dieta é o aumento dos níveis de cortisol, que é a hormona responsável pelo stress. Em última análise, isto pode levar-nos a comer mais, ao criar um sistema de recompensa nos nossos cérebros. Para lidar com este stress, muitas vezes usamos a comida como conforto – aquilo a que se chama de comer emocional. Comemos porque estamos stressados, comemos porque estamos ansiosos. Aí, a comida torna-se uma distração, muitas vezes um vício, e aí sim, é mau.
–> Fazer dieta reduz o metabolismo
O que significa que qualquer caloria que consumas, vai ser usada de forma mais eficiente. O nosso corpo vai absorver TUDO o que comemos, se comermos menos e menos vezes; ao contrário do que acontece quando temos uma alimentação normal, o corpo absorve uma parte e liberta a outra. Mais fácil, assim, ganhar de novo todo o peso que queríamos perder, e em forma de gordura.
–> Normalmente, as dietas promovem que não se comam determinados grupos de alimentos…
… o que significa que suprime nutrientes fundamentais ao bom funcionamento do corpo, sendo extremamente prejudicial à saúde. Seja cortar completamente a carne, os hidratos de carbono, o açúcar, as gorduras… todos os alimentos são importantes e devem ser consumidos moderadamente, porque todos contém nutrientes que nos fazem falta. Fazer dieta é tirar saúde.
–> Fazer dieta faz parte da cultura da magreza
A maioria de nós não faz dieta para ser mais saudável (até porque é o oposto disso), mas sim para ficar MAIS MAGRA!!! A pressão imensa que sentimos para ser magras – porque aí vamos ser melhores, mais bonitas, mais merecedoras, mais competentes e tudo melhor – faz com que caímos nesta espiral e continuemos a privar-nos de comer e a comprar produtos de emagrecimento. A menos que compres e tomes esses produtos a vida toda ou continues a comer quase nada, vais ganhar o peso de volta. É um lobby.
O facto de nos querermos submeter a algo tão restritivo que afecta a nossa saúde espelha uma insatisfação interior e falta de amor próprio (ou simplesmente aceitação) tremendas. Mais importante trabalhar nisso primeiro. Já para não falar que quando fazemos dietas ficamos mais irritadiças, chateadas, deprimidas… Quem sofre? Nós e quem tem de nos aturar 😛
A menos que continuemos nesse sistema restrito toda a vida, o peso que perdemos vai voltar. E mais uma vez, a dieta falhou-nos.
A mudança tem de ser feita de dentro para fora, e não o contrário. Daí as dicas que deixamos de seguida.
O que FUNCIONA?
É um facto! Dietas restritivas não funcionam, não são sustentáveis a longo prazo e têm mais consequências negativas do que positivas. Mas queremos ser saudáveis. Então, como?
–> Muda o foco de “ser” e “parecer” magra, para “sentir bem”
Aqui começa a primeira mudança de dentro para fora, usando motivação intrínseca (“eu faço porque quero sentir-me bem e ser saudável”) em vez de extrínseca (“eu faço porque assim vou ficar mais magra no verão e vão achar-me mais elegante na praia”) para guiar as decisões. Quando nos conectamos com aquilo que realmente precisamos e queremos, podemos fazer escolhas que nos fazem sentir bem no momento e a longo prazo. A verdade é que o “sentir-se bem” é a recompensa básica para o qual o nosso cérebro trabalha. E fazer dieta não nos faz sentir bem, pelo contrário. Quando comem uma sopa, não se sentem bem, porque estão a alimentar o vosso corpo com algo realmente nutritivo? Devemos comer a sopa porque é algo nutritivo, que nos faz sentir saudáveis, e não porque temos de perder 15Kg até ao verão custe o que custar. Esta é uma grande e fundamental diferença!
–> Aceita o teu ser maravilhoso!
Sim, é mais fácil falar do que fazer, sem dúvida! É uma jornada longa e é OK ainda estarmos a lutar nela. Mas o primeiro passo para cuidarmos bem de nós é adoptar uma atitude livre de julgamento connosco mesmos – independentemente do tamanho! Uma atitude de aceitação sem julgamentos permite-nos ver porque nos autocriticamos tanto. Uma mudança (como o emagrecimento) que é motivada pela auto-crítica não perdura. Muitas pessoas têm o receio de que quando se aceitam, “desleixam-se”, o que não é necessariamente verdade: quando nos aceitamos e queremos cuidar de nós, vamos ser mais gentis e cuidadosos, tratando-nos a nós mesmos com carinho e respeito, em vez de maltratar o nosso corpo ao cortar os hidratos de carbono todos da nossa dieta.
–> Pára de tentar perder peso
É uma obsessão, e é uma obsessão que pode ser destrutiva a muitos níveis. Muda o foco. Tira o foco de “perder peso” e coloca em “sentires-te bem”. Faz o que for necessário para te sentires melhor e mais saudável, mas algo que seja funcional no dia-a-dia. Não te esqueças que é uma mudança de estilo de vida, não mais uma dieta yo-yo. Se a perda de peso for necessária, ela vai surgir naturalmente, e não de forma forçada.
–> Pára de fazer dieta
É um bocado repetitivo, mas queremos destacar isto. Contar calorias, contar gramas de gordura ou de hidratos de carbono; criar um horário para quando se deve comer e quanto se deve comer; fazer jejum, etc. etc. é muito prejudicial ao nosso corpo; vamos ser mais magras, mas menos saudáveis e definitivamente menos felizes e mais stressadas. É importante uvir o nosso corpo: comer quando se tem fome, parar quando se sente satisfeito (o que também é um erro muito comum, continuar a comer depois de já não ter fome). Comer de forma intuitiva, ouvir o que o corpo diz.
–> Muda a forma como pensas sobre exercício
Muitas de nós pensa em exercício como uma obrigação, um sacrifício, algo que “tem mesmo de ser”. Continuando a pensar assim, vamos deixar de o fazer… que é a tendência que temos sempre com a maioria das coisas que encaramos como obrigação! Fazer exercício SABE BEM. Não tem de haver “tenho de “, ou “devo” mas sim, “faço porque quero e porque sabe bem”. O exercício alivia ansiedade, stress, e liberta endorfinas de felicidade. Não pensar no exercício como um meio para perder peso, mas sim, como mais uma atividade que fazemos para movermos o nosso corpo, porque sabe e faz bem.
–> Pratica Mindfulness
Nos dias de hoje, cheios de stress e excesso de informação, a prática de mindfulness é essencial para nos mantermos em contacto connosco mesmo. Não, não é preciso fazer um retiro espiritual, yoga ou meditação para praticar mindfulness. É algo tão simples como praticar o acto de estar presente. Quer estejas a trabalhar, a ler, ou outra atividade qualquer; é treinar a capacidade de pensar “estou aqui, estou presente, neste momento, estou a fazer isto”. O mindfulness aplicado à alimentação é, por exemplo, fechar os olhos enquanto saboreamos os alimentos; sentir a textura, sentir o mastigar, sentir mesmo a sensação de comida na boca – algo que nos passa completamente ao lado. Experimentem, pois vão ver que é transformador.
–> Simplesmente, curte a vida!!!
A sério! Pára de pôr a tua felicidade em espera até seres magra. Não é por seres mais magra que vais ser mais feliz. Começa a viver agora, quer tenhas 60,70, 80 ou 110 Kg. Começa a viver a vida com o significado que MERECES, hoje. Hoje, não quando pesares menos 15Kg.
Libertarmo-nos da pressão de termos de fazer dieta é completamente LIBERTADOR!
Claro, nada disto é fácil nem acontece do dia para a noite (excepto parar de fazer dieta, que é o que qualquer pessoa que está a fazer dieta quer deixar de fazer!). Tudo na vida é uma jornada, até mesmo encontrar o nosso próprio equilíbrio.
Esperamos que este artigo e estas dicas tenham ajudado! 🙂
O melhor é manter uma alimentação equilibrada! As dietas não funcionam a longo prazo sem dúvida!
Beijinhos
Sem dúvida Tânia! Obrigada pelo comentário 🙂
beijinhos
É muito isto, todas as dietas que fiz falharam até perceber porquê.
O ano passado mudei a minha alimentação e percebi que para perder peso as dietas não funcionam, tem que ser mudanças para a vida.
Perdi 20kg em 2017 e espero este ano perder outros 20kg e depois é manter, sem radicalismos, mas com uma alimentação mais cuidada, mais variada e a comer também por vezes aquilo que me dá prazer.
Mrs Margot, parabéns pela conquista, 20 Kg num ano é qualquer coisa! Muito bom! E o mais importante é conseguir fazê-lo, adoptando um estilo de que se adapte à nossa vida e não através de uma dieta louca! Estás de parabéns mesmo 🙂 Beijinho
Exato, as dietas são uma perda de tempo, na minha opinião.