Não é o estar acima do peso “ideal” (com toda a subjetividade que esta palavra acarreta), que faz com que as pessoas se sintam perturbadas, mas sim, a forma como os outros lidam com esse peso a mais.
Segundo Jeffrey Hunger, um doutorando em psicologia da Universidade da Califórnia, “há uma associação entre o peso de uma pessoa e a sua saúde psicológica”. O cientista complementa e sublinha: não é, de facto, o peso que faz as pessoas infelizes, mas sim, a forma como elas são tratadas e descriminadas por causa desse mesmo peso.
Uma recente pesquisa publicada no jornal Social and Personality Psychology Compass, revela que as pessoas gordas que sofreram, em algum momento das suas vidas, discriminação com base no seu peso, reportam ter problemas como depressão, ansiedade, abuso de substâncias e baixa autoestima, em comparação com pessoas gordas que não sofreram essa discriminação. Adicionalmente, estas pessoas acabam por se auto-sabotar no sentido em que evitam ir ao ginásio ou ao médico, não porque não queiram ou precisem de ir, mas sim por medo de serem novamente discriminadas pelo seu peso.
O estigma por parte dos médicos, já falado aqui, infelizmente é uma realidade. Afinal, os médicos são seres humanos como todos nós – expostos a um grande enviesamento cultural que é amplificado pelos meios de comunicação social. No entanto, isso não é “desculpa”. Discriminar um paciente com base no seu peso (por exemplo, achando que ele não tem direito ao mesmo tratamento que outros pacientes, porque “a culpa dele ser gordo é dele”) é uma prática muito dura e punitiva para os pacientes.
Também existe a crença generalizada de que a culpa de uma pessoa ser gorda é dela própria, culpa de não tentar o suficiente emagrecer. Na nossa opinião, esta crença está errada por duas razões:
1 – nem sempre a culpa de uma pessoa ser obesa, é dela;
2 – a palavra “culpa” implica que ser gordo é uma coisa obrigatoriamente má e que a pessoa realmente fez algo de mau ou é algo de mau e tem que forçosamente mudar.
(interpretem este segundo ponto como acharem melhor… já sabem da nossa posição 😛 )
Este estigma generalizado tem consequências e talvez até mais consequências do que o peso em si. É o chamado peso do julgamento. O peso do julgamento pode ser bem pior, em termos de saúde, do que o peso físico…
Um estudo recente mostrou que quando as pessoas se sentem discriminadas pelos seu peso, há um aumento da hormona cortisol, responsável pelo stress e que potencia o aumento do apetite (vejam este artigo, que tem o estudo todo explicado com mais detalhes).
Este e outros estudos semelhantes provam que o estigma e a vergonha – tão comuns na nossa sociedade – não ajudam as pessoas a perder peso (mesmo que queiram! Pois é legítimo não querer!!!); muito pelo contrário, têm o efeito totalmente oposto!
Dr. Puhl, um conceituado psicólogo social, afirma que “Mensagens que envergonham, culpam e estigmatizam as pessoas por serem gordas, têm um impacto negativo e interferem com os seus esforços para melhorarem a sua saúde”.
Com base nisto e à luz da ciência, podemos dizer às pessoas que “querem que emagrecemos porque estão preocupados com a nossa saúde”: o vosso preconceito só nos faz mal! À saúde e à paciência! 😛
Artigo baseado nesta fonte.