Já aqui falámos algumas vezes acerca da importância da auto-estima, para levar eventuais desejos de mudança a bom porto.
Mais especificamente, aplicado à perda de peso: quem o decide fazer, deve fazê-lo por si mesmo, e não pelo cartaz que insiste para as pessoas terem o “corpo de praia” (que definem como tal), nem porque as outras pessoas dizem que essa pessoa deveria emagrecer.
Muitas pessoas olham para nós com “excesso de peso” como se fôssemos doentes, coitadinhas, frustradas, que querem emagrecer e não conseguem, e que por não sermos magras, não somos felizes.
Muitas vezes, acredito, a intenção é boa, a de “ajudar”, “aconselhar” , “pensar no melhor para”, no entanto, o que essas pessoas não percebem é que:
1 – a pessoa pode querer ser como é/como está e ser feliz à mesma e não, não tem de ser frustrada por isso; porquê partir logo do princípio que é o contrário?
2 – se a pessoa não se sentir bem assim, e quiser mudar, não é isso que a motivará. Ou melhor, pode até motivar durante algum tempo, mas a longo-prazo não funciona, a pessoa está a mudar pelos outros, e não por si. Para além disto, este tipo de comentários muitas vezes são levados (e muitas vezes são-no mesmo) como críticas, o que apenas fragiliza a auto-estima da pessoa, em vez de a fortalecer.
Os resultados disto? Pois, não podiam ser muito bons.Existem alguns dados científicos que comprovam que a discriminação contra as pessoas obesas (não só a nível de relações interpessoais como também pior tratamento nos serviços de saúde, limitações a obtenção de emprego, pior tratamento em lojas de roupa, etc. – fenómeno conhecido como fat shaming, mais ou menos subtil) não diminui o problema, apenas o aumenta.
Um estudo publicado no jornal científico Obesity, por exemplo, que recolheu dados de 3000 adultos na Inglaterra, que foram seguidos durante alguns anos, mostrou que situações de discriminação devido ao peso estavam associadas ao aumento de peso.
Nós podemos dizer “mas cada pessoa tem de aprender a ignorar esse tipo de situações”…… E sim, é verdade! Não vale de nada estarmos a culpar os outros por nos acontecer isto ou aquilo, até porque críticas há-de sempre haver, seja a pessoa gorda ou não. No entanto, este tipo de evidências surge para nos mostrar a importância de apoiar em vez de apontar o dedo.
Podemos todos melhorar, desde como nós próprios levamos as críticas (opção de nos fazermos de vítimas está fora de questão), a como criticamos os outros.
Assim, como não podemos controlar as reacções dos outros (ou opiniões), é essencial trabalhar a auto-estima. Esta é a melhor maneira não só de mudar (caso seja esse o desejo!), como também de evitar que as críticas ou “conselhos” alheios vos afectem; de certa forma, ficar “imune” a isso.
Do outro lado: dizer coisas como “precisas de emagrecer”, “tens uma cara tão bonita, porque não emagreces?” e outras coisas do género, pouco trás de positivo, e na minha opinião, nunca cai bem.
Fontes:
http://consumer.healthday.com/mental-health-information-25/behavior-health-news-56/fat-shaming-doesn-t-motivate-obese-people-to-lose-weight-study-691658.html (artigo científico: http://www.sciencedaily.com/releases/2014/09/140910214151.htm)
O Post primeiramente está excelente! Abordaram uma das vertentes mais importantes que quanto a mim existe. Ser gordinha com vergonha é ter vergonha de ser gordinha. A auto estima é deveras importante. Seja num gordinho, num magro e não só! Para além de todos os problemas adjacentes à vergonha que foi focado. O "Tens uma cara tão bonita, podias emagrecer" não é mais que: "Com essa cara ficas mal nesse corpo!" Sempre deduzi para mim e na minha opinião ( como calculo de muitos que partilhem da minha ideia) que este tipo de opiniões, que tantas vezes deduzo que não é com o intuito de magoar, mas já magoando de uma forma maquiavelicamente disfarçada….só mostram a continuidade de deduções, pensamentos, ideias que definem personalidades. Pessoas assim não são amigas. Sinceramente…cara bonita, gordinha que sejam, amigos, conhecidos, familiares, simples seria dizer: "Amo te de todas as formas" Porque a importância da presença em vida é mais saborosa do que tamanhos de peitos, formatos de corpo e acima de tudo…ausência de amor de uns para outros. But…that s Life! So…live the way you like it!
Concordo plenamente com cada palavra deste blog. Gozar de pessoas gordas não as incitiva a emagrecer, ou consequentemente, ser mais saudáveis – que por si é relativo. Pelo contrário, torna-se mais vuneráveis e sensíveis, com falta da auto-estima e auto-confiança, o que muitas vezes as leva a exilar-se e a comida torna-se um conforto, o pior ainda mais a situação (tanto física ou psicologicamente). Digo isto por pura experiência! Eu sobrevivi por sorte, e mudei porque não queria passar o resto da minha vida assim – não por ser obesa, mas queria viver a vida como deve ser vivida. E tenho a personalidade que tenho não por ter sido gorda mas pela maneira que as pessoas me tratavam,que não era boa.
Mais um artigo bem construído. Gostei. Estão de parabéns.
coisinhasdacarlac.blogspot.com
Obrigada Bruno, por nos acompanhares e pelo comentário.
Sábias palavras! "Amo-te de todas as formas" seria o substituto ideal a "mas tens de perder esses 5 Kg a mais" de facto 😀
Beijinho
CarlaC!
Resumiste num comentário exactamente aquilo que queria dizer com o post. É isso mesmo. Mas admiro a tua atitude, de quem não se deixa derrotar por isso, e um dia resolve viver a vida como ela merece ser vivida – sem complexos! É isso que defendemos! Fat shaming ou outras formas de gozo e crítica há sempre, sejamos gordos ou magros. Mais vale mesmo não ligar e continuar a viver! 🙂
Obrigada!
Beijinho,
Cláudia
[…] em Cláudia Silva on Setembro 12, 2015 | Comentários No outro dia escrevemos sobre os efeitos nefasto das práticas de fat shaming. Nem a propósito deste tema, houve recentemente uma polémica acerca de um vídeo lançado por […]
[…] descontracção e descomplexo que Nadia se apresenta, há sempre quem pratique a moda do body/fat shaming, através das redes sociais, e até mesmo criando sites com títulos depreciativos, como por […]