Este post é de Julho de 2015 mas continua muito atual!
Nestes dias, estivemos a refletir o que mudou na moda plus size em Portugal nos últimos anos. Bem, podemos falar de experiências nossas.
1 – O que é uma modelo Plus Size?
(fonte da imagem aqui)
Uma modelo Plus Size, tal como o nome indica, é uma pessoa que presta um serviço, neste caso, o de “emprestar” a sua imagem para representar uma marca, seja para desfile, seja para sessão fotográfica. A designação “Plus Size” refere-se ao facto destas modelos vestirem a partir do tamanho 40 (em alguns casos até mesmo a partir do 38!). Uma das críticas mais ouvidas é “mas uma pessoa que veste um 40 e até um 42 não é gorda… é normal”. Pois há que perceber a distinção entre a moda e o mundo real. Sim, uma pessoa que seja “normal” no mundo real pode ser considerada Plus Size na moda. Porque na moda, os tamanhos que se querem são pequenos demais para a “realidade”. Então, o que é Plus Size na moda, pode não ser na vida real. Uma modelo Plus Size não tem de ser obesa e isso é um dos maiores mal-entendidos desta indústria. Se, por um lado, existem muitas críticas “contra” os projetos e marcas plus size por “promoverem a obesidade”, por outro lado, surgem as críticas contraditórias de que uma mulher que não seja realmente gorda seja uma ofensa para quem realmente o é. Isto cria um preconceito dentro do preconceito, que é segmentar a própria moda plus size, que deve ser inclusiva, a tamanhos maiores que X… Isto cria um limbo em que, quem é simplesmente “normal” não fica em lado nenhum! Não é esta, também, uma forma de discriminação?!
Uma modelo Plus Size pode vestir um 40, ou pode vestir um 50. Outra polémica que existe muito, especialmente a nível internacional, é a aplicação do termo “plus size”. Há quem argumente que isso só por si já é uma forma de discriminação. Se queremos igualdade, temos de nos referir a todas as modelos como, simplesmente, modelos, independentemente de serem plus size ou não. A nosso ver, esse problema é menor, é um problema de semântica e designação verbal… Sim, compreendemos o ponto de vista que pode ser visto como uma “separação”. Mas o importante e fundamental aqui é incluir mulheres de todos os tamanhos na moda. E quando dizemos todos são mesmo TODOS. Não é achar que uma modelo normal é 36, uma modelo plus size é só a partir do 44, e quem veste 38, 40 ou 42 fica de fora.
2 – Remuneração das Modelos
(fonte da imagem aqui)
Quando começamos com este blogue, em 2009 era tudo novidade, de tal forma fomos convidadas várias vezes a ir à TV, entrevistas em revistas, sites e rádios. Em muitas dessas idas à TV, quase sempre nos foi pedido que levássemos alguma loja/marca connosco para realizar um desfile. Então era o que fazíamos, ora levávamos lojas de roupas, ora de vestidos de noiva, ora de lingerie. No princípio convidávamos leitoras que quisessem desfilar, muitas viajavam de Norte a Sul, muitas faltavam o dia de trabalho/escola. Deixavam os filhos em casa e iam. E nós compactuávamos com isso, porque estávamos no início de algo que nem sabíamos bem para onde ía, não havia modelos plus size, nem sequer havia essa categoria profissional. Mas percebemos que estas mulheres estavam ali a expor-se e tinham de ser recompensadas por promover uma marca que vai lucrar com a imagem delas.
Este é o problema: é que muitas marcas não olham para as modelos como profissionais, olham como se fossem coitadinhas que precisassem de uma foto para se sentirem bem. E muitas aproveitam-se disso para usar as imagens de muitas mulheres de forma gratuita. Não deixem que isso aconteça!
Ao longo destes anos, já tivemos muitas experiências e vários exemplos disso, já perdemos parceiros porque queriam que divulgássemos um casting em que as modelos não recebiam nada em troca. Tivemos um caso em que uma loja não queria pagar nem sequer as despesas de transporte. Nem chegámos sequer a divulgar. E ainda aparecem com um discurso ridículo “muitas fazem porque querem aparecer nos nossos catálogos”. Muitas sentem-se maravilhadas com essa possibilidade, mas nós não! Encaramos a carreira de modelo plus-size como uma outra carreira qualquer, que merece ser reconhecida e paga!
Até que finalmente, em 2011, fomos convidadas a organizar um desfile em Coimbra para a Ordem dos Farmacêuticos e, pela primeira vez logo no primeiro mail, perguntaram: “qual o cachet das modelos e o vosso?”.
Não eram empresários, não estavam a explorar a imagem e trabalho de ninguém, pela primeira vez sentimo-nos reconhecidas pelas nossas “modelos” e pelo nosso trabalho em organizar um evento como este. Ficámos mesmo contentes, sobretudo, podermos dar às nossas leitoras a oportunidade de participar em trabalhos remunerados.
Todas as modelos foram pagas pelas horas que estiveram disponíveis para o evento, despesas de transporte inclusive, todas tiveram tratamento vip num dos mais lindos e emblemáticos hotéis de Portugal. Desfilar faz bem ao ego? SIM, CLARO! Mas é importante isso ser reconhecido como trabalho e ser remunerado!
Algo que, em Portugal, ainda está por desenvolver.
O que mudou nos últimos 8 anos?
Quando começámos, era assim. Quem queria ir, ia só pelo gozo, como um hobbie, nunca sendo remunerado. Felizmente, as coisas começaram a mudar. Ainda falta muito, mas já não falta tudo!
Algumas marcas já remuneram as modelos, ou pelo menos oferecem roupas para as modelos!
A oferta de roupa é, claro, bem-vinda, mas na nossa opinião ainda não é suficiente para reconhecer este trabalho de forma séria. Então, aqui, ainda temos muito caminho a percorrer.
3 – Características das Modelos
Recebemos muitos mails e mensagens a perguntar como podem ser modelo plus size. Em Portugal, não temos um perfil exato do que uma mulher tem que ter para ser modelo, muitas pensam que basta ser gorda e ponto final… Não é bem assim! Existem critérios, existem requisitos, tal como em todas as outras profissões. Algumas dicas aqui. A moda plus size deve ser inclusiva para as consumidoras, na medida em que gostam de ver diversos tipos de corpos representados – desde os plus sizes pequenos, até aos maiores. Mas não é um meio para que a pessoa se aceite, nem deve ser.
Ser Modelo Plus Size, não é de todo a única maneira de ter auto-estima e aceitar-se.
Muitas pensam que basta fazer um book e já podem ir declarando que são modelos, não é bem por aí… para ser realmente profissional, é preciso sim um book, e também formação! Não existe nenhum curso de “como ser modelo”, mas tudo se aprende na prática e com experiência… Com força de vontade, e com motivação. Demos, por exemplo, algumas dicas aqui de como desfilar.
Como, em Portugal, a carreira na moda plus size ainda é muito restrita e não existem grandes critérios (porque também, infelizmente, não existe tanta procura), fizemos um apanhado das condições a níveis internacionais:
* Qual a altura mínima para ser modelos plus size?
Espera-se que tenham no mínimo 1.72m, mas temos o exemplo da Laetitia Casta, top model de grandes marcas com o seu “pequeno” 1.69m de altura.
* Qual o tamanho mais procurado pelas marcas?
– Os tamanhos 42, 44 e 46 são os mais procurados, a partir do tamanho 50 as chances são menores, ainda assim, podemos citar a Tess Munster que usa o tamanho 54.
* Qual o tipo de corpo mais procurado na indústria?
– As silhuetas tipo X e 8 são as mais procuradas, ter um corpo proporcional.
* Qual o critério fundamental?
– O critério mais importante é ter um rosto fotogénico, além disso, ter uma pele bem tratada e um belo sorriso!
* E que tipo de formação é necessária?
– Procurar agências de modelos verdadeiramente credenciadas, fazer uma formação em fotogenia, poses, desfile e saber estar à vontade em frente às câmaras. Todos os movimentos em frente ao fotógrafo têm de ser calculados.
Independente do tamanho ou peso, as características mais importantes são, sem dúvida, ter uma boa personalidade, bom humor, educação, e ser pontual. As modelos passam não só uma imagem do seu físico, mas também das suas atitudes!
Nada disto é discriminação! Percebam que a carreira de modelo não é fácil nem cheia de glamour como as pessoas tendem a pensar. Percebam que para as marcas, pagar a modelos (como falámos acima que achamos que deve ser sempre), representa um investimento para elas, para que a sua marca esteja representada da forma que as marcas pretendem. A moda não é um meio de solidariedade social em que tem de se agradar a gregos e troianos para fazer as pessoas sentirem-se bem. Uma mulher gordinha ou gorda não é automaticamente Plus Size só porque sim, nem pode alegar que está a ser discriminada por não a aceitarem para determinado trabalho. Há mulheres que não sabem desfilar, mas ficam fantásticas em foto. Há outras que não são tão fotogénicas, mas que arrasam a desfilar. Há mulheres com perfis mais clássicos que se adequam mais a determinados estilos de roupa, e outras com perfis mais descontraídos que se adequam a outros estilos. As roupas, os contextos, os cenários… tudo muda e daí a importância da DIVERSIDADE.
Tudo isto é muito subjetivo e depende da ideia que as marcas têm do que é adequado, mas se a coisa for bem feita desde início, ou seja, uma marca procura X modelos para representar X produtos num evento, pagar, a marca pode EXIGIR. Pode ter requisitos, parâmetros, porque está a pagar, o produto é seu. Isto não é discriminação!
Em resumo:
1 – a moda plus size pretende ser inclusiva em termos de TAMANHOS, todos os outros requisitos (como a altura, o perfil, a idade, etc.) continuam a ser variáveis e exigidos conforme cada marca, empresa, organização ou entidade que pretenda INVESTIR e pagar a modelos para representar a marca; ora se eu quero representar uma linha adolescente, só quero contratar jovens… Não vou admitir pessoas mais velhas, isso é discriminação?! Não… não tenho nada contra pessoas mais velhas! É simplesmente o que se adequa ao produto que eu quero vender e pelo qual eu vou pagar a sua representação. É só um exemplo de como os requisitos podem mudar e isso não significa obrigatoriamente discriminação.
2 – o facto de haver modelos plus size “pequenas” (tamanhos 40, 42) não representa uma ofensa para quem é realmente gorda. Pelo contrário, quem é realmente gorda e critica haver tamanhos mais pequenos, aí sim, está a contribuir para que haja mais segregação na moda, criando um “Limbo” para quem não se insere em nenhuma das categorias.
3 – as modelos plus size, tal como as “normais” merecem ser reconhecidas e PAGAS pelo seu trabalho, não vistas como coitadinhas que querem ter uma oportunidade de aparecer. Atenção que isto aplica-se a trabalhos comerciais! Não a sessões fotográficas por diversão, como hobbie, simplesmente aquelas em que nos juntamos para tirar fotos e divertir-nos, como foi o Verão XL. Nesse evento não estávamos a promover uma marca, mas sim uma ideia, uma mensagem. Já quando estamos a promover marcas (como por exemplo quando foi o nosso desfile), aí sim tem de ser pago. Se estas marcas estão a publicitar um produto e vão ganhar dinheiro com a venda do mesmo, porque raio não hão-de pagar à modelo? Ainda há um longo caminho a percorrer aqui, mas, felizmente, nos últimos anos assistimos (e contribuímos nós mesmas) a uma ligeira mudança para melhor.
4 – se querem ser modelos plus size, ótimo! Invistam em vocês mesmas, mas tenham noção que não é uma profissão de sonho nem de glamour, é uma profissão que como em todas as outras exigem requisitos, esforço, trabalho, dedicação, formação, etc. etc. ;). Não vejam a moda Plus Size como um veículo para aumentarem a autoestima, pois essa, vem sempre de dentro! E não acusem a moda Plus Size de “afinal não ser o que pensavam” ou “está a discriminar”, só porque para um determinado trabalho o vosso perfil não encaixa.
Parabéns…ótimas dicas!!
Parabéns pelo blog
Um amigo meu tem uma agencia de modelos que contrata modelos xl.
se quiserem saber mais, é a gomodelslisboa.com e ele é o Daniel.
Força na perseguição do vosso sonho
Ola. Ha no porto ?
Gostaria de fazer parte da sua equipe de modelos xl. Obg
http://mulherxl.pt/quer-ser-modelo-plus-size-por-um-dia/
🙂
ÓH! Bem…
Lá se foi o meu mini-sonho de ser modelo plus-size! É pena 😛
Mas obrigada pelas dicas <3 Adorei e espero do fundo do meu coração que a industria plus size seja valorizada como as restantes industrias. E isso de não pagar: é treta – designers gráficos sofrem a mesma coisa 🙁
Boa tarde…gostava de saber se me podem ajudar. Gostava muito d investir nessa área de modelo plus size mas n sei como fazer.onde procurar ou como me inscrever
Olá Marlene,
Obrigada pelo contacto. Fica atenta ao nosso site e página de Facebook, pois é lá que colocamos sempre que há pedidos, castings, novidades,etc.
beijinhos